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Revista toxicodependências

 
Revista nº: 1/1999
NOTA DE ABERTURA

Apesar das vicissitudes que rodeiam a preparação e composição de cada número, reflexo da fraca produtividade que caracteriza o panorama nacional nesta área, toxicodependências, vai saindo com regularidade e comporta em geral artigos de temas múltiplos, que abarcam áreas tão distintas como a sociologia, a história, o direito, a medicina e outras.
Da qualidade do seu conteúdo chegam-nos com alguma frequência referências elogiosas, mais por via oral, embora por vezes também por escrito (cf. varia).
Embora o nosso projeto de revista técnico científica se mantenha inalterável, introduzimos uma secção nova - discurso direto - no intuito de publicar textos com características mais próximas de um figurino interventivo e como tal mais acessíveis do que certos textos elaborados da comunidade científica.
O presente número desenvolve-se em redor de três vetores: a relação droga-criminalidade, a avaliação das terapêuticas e o tema dos valores, sejam eles culturais ou de índole pedagógica.
A relação do consumo de drogas com o ilícito criminal, cuja origem a investigação histórica situa na segunda metade do séc. XIX (Carlos Poiares) e que tem sido objeto de diversas abordagens nas últimas décadas, só em estudos mais recentes, se libertou do binómio causal, fazendo incidir em características do foro psicológico a eclosão de comportamentos delituosos (Cândido da Agra).
Os recursos terapêuticos colocados à disposição da população prisional, configuram respostas específicas, tal como a praticada no Estabelecimento Prisional do Linhó (R. Durval) e que a seu tempo será objeto de avaliação a publicar nesta revista. O vetor das avaliações terapêuticas continua a ser aliás uma das apostas fortes da revista toxicodependências. O estudo sagital de 1977 (N. Felix da Costa et al.) analisa os resultados relativos à caracterização sociodemográfica, padrões de consumo, história clínica e recursos terapêuticos e confirma a tendência para a menor utilização da via endovenosa no consumo de drogas, a par do aumento do consumo associado à cocaína. Mais uma vez o estudo sagital acentua que a percentagem das mulheres toxicodependentes com maus resultados é superior á dos homens.
Já o estudo dos doentes em programas de Metadona no CAT da Boavista - Porto (E. Viegas et al.) e que se encontravam em tratamento em Março de 97, se destaca, a par do elevado número de doentes HIV positivos, no programa de manutenção (67%), a dificuldade de abstinência para todas as drogas em doentes em metadona.
Por fim dois textos complementares do nosso leque interdisciplinar. A análise da relação folha de coca e a cocaína (R. Meneses) chama a atenção para os efeitos perversos das políticas de combate à oferta, à custa da liquidação de tradições ancestrais, de significado antropológico indiscutível, e da fragilização das economias locais.
No artigo de R. Garcia Lopez et al., os autores analisam o impacto de certos valores (sinceridade, amizade, respeito, sentido crítico e responsabilidade) na implementação de programas de carácter pedagógico e sua incidência na prevenção de fatores de risco.
Resta enfim o texto interventivo de Álvaro Pereira; ao feito de associações livres paradoxais o autor questiona os leitores, sem rodeios, nem divagações académicas.
São múltiplas as questões relacionadas com a toxicodependência que a nossa revista gostaria de abordar e que, esperamos, se prossiga nos próximos números.


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