Ignorar Comandos do Friso
Saltar para o conteúdo principal
  • A-
  • A
  • A+
 

Revista toxicodependências

 
Revista nº: 3/2000
O GESTO, OS LABIRINTOS DA ALMA E A DEMANDA DO SER. O FIO PRECÁRIO DE UM AFECTO A-MNÉSICO

Carlos Farate

RESUMO
O autor tenta estabelecer um laço dinâmico entre o sofrimento mental dos doentes da dependência, particularmente nos seus aspectos mais "arcaicos", podendo reenviar a uma matriz psíquica de tecedura irregular ligada a experiências objectais precoces de nota afectiva inefável, logo irrepresentável, e a dificuldade no estabelecimento de uma relação psicoterapêutica mutativa, em resposta a um pedido de tratamento, as mais das vezes, desmentido em surdina pela conduta que o justifica.
Recorre a uma analogia psíquica compreensiva com a teoria determinística do caos, tendo em mente o seu carácter de abstracção matemática da física dos sistemas naturais dinâmicos não lineares, logo longe do equilíbrio sistémico, para abordar a complexidade da trama dolorosa (labiríntica) que aprisiona estes pacientes na teia de condutas anestésicas, que, pouco a pouco, desvitalizam o fio mnésico necessário à construção (contínua) de um sentido existencial único, porque partilhável na relação com o outro.
Procura, em particular, questionar, com base na análise clínica do percurso terapêutico de dois pacientes com gestos adictivos algo diferenciados, a sincronia das manifestações apresentadas, realçando a rigidez do funcionamento mental (proto-onírico) que lhes subjaz e impede o acesso à metaforização, pela palavra ou a partir dela, das violentas emoções que lhes subjazem. A referência à teoria psicanalítica da relação de objecto, a partir da sua inscrição originária no topos pulsional Freudiano, é colocada a par da nova abordagem cognitivista, decorrente das descobertas mais recentes no domínio da neurobiologia do conhecimento, num esforço de leitura dialéctica que permita alargar horizontes conceptuais em área tão desafiante da suficiência dos saberes constituídos, como o é, sem dúvida, a toxicodependência.
Palavras-chave:  Toxicodependentes; Modelos conceptuais; Psicanálise; Relatos de caso.


RÉSUMÉ
L'auteur essaye d'établir un lien dynamique entre la souffrance mentale des malades de la dépendance, notamment les aspects les plus "archaiques" de cette souffrance qui renvoient à une matrice psychique de tissage irrégulier, en fonction d'expériences objectales précoces affectivement inéfables, donc irreprésentables, et la difficulté à nouer avec eux une relation psychothérapeutique à caractère mutatif. Et ceci, en réponse à une demande de traitement qui est, le plus souvent, mise en silence par la conduite même qui la justifie.
Ayant recours à une analogie psychique compréhensive avec la théorie déterministe du chaos, en tant qu'abstraction mathématique de la physique des systèmes naturels dynamiques non linéaires, donc loin de l'équilibre systémique, il devient alors possible d'aborder la complexité de la trame douloureuse (labyrinthique) qui renferme ces patients dans une toile de conduites anesthésiques, lesquelles, petit à petit, dévitalisent le fils mnésique implicite à la construction (continuelle) d'un sens existentiel unique, car partageable dans la relation à autrui.
L'auteur interroge, en particulier, l'apparente synchronie de leurs manifestations comportementales, à partir de l'analyse clinique du parcours thérapeutique de deux patients ayant affaire à des gestes addictifs quelque peu differenciés. Il soulève la rigidité du fonctionnement mental (proto-onirique) que sous-tend cet agir répétitif et empêche, de la sorte, l'accès à la métaphorisation du vécu émotionnel pénible qui justifie le recours compulsif à ces conduites. La référence à la théorie psychanalytique de la relation d'object, à partir de son inscription originaire dans le topos pulsionnel Freudian, est mise en rapport avec la nouvelle approche cognitiviste, qui essaye d'intégrer les découvertes les plus récentes dans le domaine de la neurobiologie de la connaissance, dans un effort de lecture dialéctique capable de permettre, dans l'avenir, d'élargir l´horizon conceptuel dans un domaine qui défie, de façon radicale, la suffisance disciplinaire des savoirs scientifiques constitués.
Mots-clé: Toxicomanes; Modèles concéptuels; Psychanalyse; Rapports de cas.


ABSTRACT
The author dresses a dynamic connection between the mental functioning of the patients suffering from dependency diseases, particularly in its most "archaic" aspects bounded to a defective psychic matrix due to the affective insufficiency of their early objectal experiences, and the difficulty in establishing with them a psychotherapeutic relation of a mutative character.
Using a comprehensive psychic analogy with the deterministic chaos theory he tries to approach the complexity of the painful (labyrinthic) frame that captures these patients inside the cobweb of an anaesthetic behaviour that destroys step by step the memory edge implicit to the (continual) construction of an unique existential meaning.
How can then be explained the apparent synchrony of the addictive manifestations of each one of the two patients whose therapeutic trajectories are analysed in this paper? The author stresses the rigid mental functioning of these patients whose internal world is always overwhelmed by the chaotic non-integrated nature of a set of "non-thinkable" emotions, making them unable of using a "dreamwork" apparatus to accede to the metaphoric "working through" of verbally expressed affective states on a mind of their own.
A dialectic approach to the contributions of both psychoanalysis and the new cognitive perspective based on the most recent advances of the neurobiology of the mind is finally attempted. The rationale of such a dialectic approach lies on the challenging nature of the therapeutic interrogations and scientific doubts brought about by a clinical field which eludes the absolute sufficiency of the classic domains of disciplinary knowledge.
KeyWords: Drug addicts; Conceptual models; Psychoanalysis; Case reports.


2000_03_TXT8.pdf
Voltar