“Comportamentos aditivos e dependências em minorias étnicas,
migrantes e refugiados”, foi o tema da videoconferência SICAD realizada a 23 de
novembro, e que contou com 205 participantes.
A sessão teve como oradores convidados Adriana Curado,
psicóloga e investigadora comunitária, e coordenadora de projetos na área das
drogas no Grupo de Ativistas em Tratamentos (GAT); Dora Rebelo, psicóloga, doutorada
em Antropologia, investigadora, professora auxiliar convidada no mestrado em
Ação Humanitária do ISCTE-IUL e consultora em saúde mental e apoio psicossocial
em contextos humanitários; Ana Neto, médica psiquiatra, na Unidade de
Alcoologia de Lisboa DICAD/ARSLVT; e Américo Nave, psicólogo clínico, diretor
executivo e membro fundador da Associação CRESCER. A moderação esteve a cargo
de Graça Vilar, médica psiquiatra e diretora dos Serviços de Planeamento e
Intervenção, do SICAD.
João Goulão, diretor-geral do SICAD, abriu a
videoconferência agradecendo a disponibilidade dos oradores, referindo que a
mesma acontece no seguimento de uma ação de formação sobre “Cuidados
culturalmente competentes e informados para o trauma em CAD: o trabalho com
minorias étnicas, migrantes e refugiados”, que teve bastante adesão.
Após considerar este tema um grande desafio atual e que
encaixa perfeitamente nos três pilares do Plano Nacional para a Redução dos
Comportamentos Aditivos e Dependências 2021-2030 – empoderar, proteger e cuidar
– recentemente aprovado, afirmou ser esta uma das áreas onde estes fazem todo o
sentido no trabalho com estas populações, “cada vez mais visíveis, mais
expostas e mais vulneráveis”. Concluiu, afirmando ser uma oportunidade única
contar com pessoas com uma tão grande, rica e profícua experiência no terreno,
com estas populações.
Dora Rebelo fez uma contextualização do tema e apontou as
características que os cuidados com estas populações devem ter, numa tónica de
diversidade. Realçou as vantagens da utilização do modelo de cuidados sensíveis
à diversidade, entre as quais se encontram a menor disparidade, a maior justiça
e igualdade nos cuidados de saúde, aumento da satisfação e adesão dos utentes
ao tratamento, e o aumento da satisfação laboral dos técnicos envolvidos. Falta
de informação acessível, nomeadamente, sobre os direitos no campo da saúde de
acordo com o respetivo estatuto de cidadania e diversos tipos de barreiras como
a linguística e a burocracia, foram alguns dos problemas apontados. Investir na
diminuição da sensação de distância e no reforço do sentimento de pertença,
estiveram entre as apostas futuras.
Adriana Curado abordou os desafios e especificidades na área
da redução de riscos e minimização de danos, e apresentou um estudo de caso
exploratório com pessoas nepalesas que usam drogas, a partir de um centro de
redução de danos em Lisboa, o GAT IN Mouraria. Salientou a alteração da origem
dos migrantes, com aumento dos provenientes dos países do sul da Ásia,
maioritariamente sozinhos e vindos de outros países europeus. Entre os
resultados apresentados, consta o facto de nenhum ter acedido ao SNS e a
ausência de apoio social após a chegada a Portugal. A precaridade da habitação
e a maioria estar em situação de sem abrigo, desempregada ou em trabalhos sem
contrato, e com início de consumo de drogas, sobretudo opiáceos, entre os 16 e
os 18 anos de idade no Nepal, estiveram entre outros dos dados apurados.
Ana Neto expôs as especificidades e desafios de um serviço
em construção, concretamente, a criação de uma consulta, a ALMMER – Álcool em
migrantes, minorias étnicas e refugiados, na Unidade de Alcoologia de Lisboa.
Entre os pressupostos para a criação desta consulta estão as barreiras no
acesso, no seguimento e elevada prevalência. Nos objetivos da mesma consta o
aumentar do alcance do tratamento, o acolhimento eficaz e culturalmente
sensível, e a articulação e consultadoria às instituições da comunidade.
Américo Nave abordou as especificidades e desafios da
intervenção na área da reinserção social, no acesso às respostas sociais de
formação e emprego, com enfoque na inclusão. Compreender os fluxos migratórios,
a influência da cultura no comportamento e na identidade das pessoas, promover
o desenvolvimento de ferramentas e estratégias, e promover a implementação de
políticas públicas efetivamente inclusivas são alguns dos aspetos essenciais à
inclusão de migrantes, que apontou. Explanou, igualmente, os fatores de risco
acrescido para o início ou continuidade de comportamentos aditivos e
dependências, por parte dos requerentes de asilo e refugiados que experienciam
percursos migratórios que afetam a sua saúde mental ou física.
Assista à gravação da videoconferência AQUI