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 Revista toxicodependências

 
Revista nº: 2/2011
ABERTURA

Anuncia-se, para maio de 2013, a versão definitiva do DSM-V. As alterações introduzidas neste instrumento de diagnóstico, criado e monitorizado pela Associação Americana de Psiquiatria, que vai substituir o DSM-IV, contemplam não apenas a nomenclatura mas, também, algumas alterações na organização da estrutura das categorias. Relativamente aos critérios a ter em conta para avaliar os efeitos dos consumos problemáticos de substâncias psicoativas, as modificações são predominantemente: eliminar os diagnósticos dependência e abuso, substituindo-os pelo diagnóstico Perturbação pela Utilização de Substâncias, introduzir o conceito de adição como categoria diagnóstica, incorporar o conceito de “craving” e criar as especificações de moderado e grave. Outra alteração importante da DSM-V é a introdução, nesta categoria diagnóstica, do conceito de adição, sem ser por substâncias, incluindo nela o Jogo Patológico e retirando-o das Perturbações do Controlo dos Impulsos não classificados noutro lugar, como constava no DSM-IV.A categoria dependência, proposta no DSM-III em 1980, baseada fundamentalmente em critérios fisiológicos, com exceção para o álcool e a cannabis, foi consagrada no DSM III-R, em 1987, com o alargamento a critérios não fisiológicos, após aturadas discussões no seio da comissão, onde o grupo de peritos mais sensíveis aos aspetos clínicos prefeririam o termo adição em alternativa ao termo dependência, este último defendido por vários especialistas de formação psicológica, seguidores do conceito de dependência alcoólica desenvolvido por Griffith Edwards. Para este grupo, adição possuía uma conotação pejorativa.
Já nessas discussões, alguns peritos alertaram para o duplo sentido do termo dependência, que se pode referir, não só, aos quadros de privação comuns a várias substâncias psicoativas, utilizadas com fins terapêuticos, quando há uma redução ou interrupção abrupta das tomas, mas, também, aos comportamentos compulsivos dos toxicodependentes, podendo condicionar negativamente a prática clínica, nomeadamente na prescrição de opióides para o tratamento da dor.
Por outro lado, a categoria abuso de substâncias, que durante muitos anos permitiu distinguir a dependência do padrão de utilização desadaptativo, é eliminada por ser difícil definir limiares que fundamentem o estádio intermédio entre abuso e dependência de substâncias.
Assim, a dicotomia abuso/dependência é substituída pela categoria Perturbação pela Utilização de Substâncias, sendo aplicável às substâncias psicoativas mais comuns: álcool, tabaco e outras substâncias lícitas e ilícitas.
Quanto ao termo adição, os aspetos estigmatizantes têm-se atenuado ao longo dos anos, sendo utilizado por um grande número de especialistas, abrangendo outras situações em que não há consumo de substâncias. Pensamos, que, esta nova reformulação da DSM-V poderá ajudar a clarificar alguns conceitos, com manifesta vantagem na prática clínica.


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