O Encontro Nacional de Profissionais
de CAD teve ontem, 26 de novembro, o seu segundo dia composto por três painéis.
No primeiro, “O futuro começa agora”, foi apresentada a situação epidemiológica
nacional 2012-2020 e foi tratada a transversalidade das abordagens. Os dois
painéis seguintes foram: “Inovação e descriminalização 20 anos depois” e
“Guidelines para a intervenção na área do jogo”, onde foi analisado o trabalho
desenvolvido. Neste mesmo dia, o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde,
deixou uma mensagem de incentivo e de esperança no futuro.
A moderação do painel da manhã esteve
a cargo de Manuel Cardoso, Subdiretor-Geral do SICAD, que referiu que um dos
objetivos deste encontro é “sabermos o que correu mal e o que correu bem no que
foi feito relativamente ao Plano Nacional 2012-2020, e perspetivarmos o
futuro”. A seguir, foi apresentada a situação epidemiológica nacional,
referente ao mesmo período de tempo, e os oradores convidados pronunciaram-se
sobre a transversalidade das abordagens.
Paulo Jesus, coordenador do CRI do
Alentejo Central e coordenador regional para a área da prevenção e intervenção
comunitária da DICAD da ARS Alentejo, considerou que falar de futuro nos tempos
que vivemos é uma ousadia, e que a existência de uma cultura da prevenção pode
influenciar, positivamente, os números relativos aos CAD.
Jorge Barbosa, coordenador do CRI
Porto Oriental, salientou que perspetivar o futuro terá de ser precedido de uma
análise do percurso histórico das nossas instituições, defendeu a melhoria da
comunicação com os cidadãos, e previu que os migrantes serão, no futuro, um
próximo grupo de intervenção.
Paula Carriço, coordenadora técnica
do CRI de Coimbra, defendeu que as equipas multidisciplinares são essenciais
para a transversalidade, que é necessário colocar o sonho na ação e que para
melhorar a intervenção é necessário assegurar de forma transversal e
descentralizada, os diversos gestores e atores da ação.
Ana Catarina Antunes, enfermeira
coordenadora da Unidade de Alcoologia de Lisboa (UA), salientou que o
tratamento do problema do álcool não é apenas retirar a substância mas, também,
reintegrar os utentes, tendo considerado importante para o futuro um maior
investimento na área dos CAD e o efetivo reconhecimento das UA.
Adriana Curado, cocoordenadora e
psicóloga no Programa de Consumo Vigiado de Lisboa, afirmou que a pandemia
agravou as dificuldades existentes e pré-existentes, mas também proporcionou
uma maior comunicação e articulação entre os parceiros no terreno. Considerou
importante no futuro, a adaptação dos serviços às situações das pessoas e que o
trabalho em rede tem também de ser de proximidade.
Luís Machado, coordenador da Saúde
Mental e diretor técnico, clínico do Centro de Solidariedade de Braga – Projeto
Homem e diretor clínico e técnico da comunidade terapêutica do Projeto Homem do
Centro Paroquial Interparoquial de Abrantes, afirmou que as comunidades
terapêuticas estão preparadas para a transversalidade, considerou um erro
integrar nas Comunidades Terapêuticas tradicionais, dependentes do jogo, e
defendeu a criação de um organismo central único, no futuro.
Ana Soledade, responsável pela área
da prevenção no CRI de Leiria, apresentou o programa Like Saúde, que considerou
ser uma metodologia de intervenção.
No início dos trabalhos da tarde, foi
divulgada uma mensagem, em vídeo, do Secretário de Estado Adjunto e da Saúde,
António Lacerda Sales, que deixou um agradecimento às equipas que continuam a
acompanhar no terreno os mais vulneráveis, e ao SICAD, por ter habilitado os
profissionais com equipamento de proteção individual. Prometeu, igualmente,
novidades para breve sobre o trabalho de reorganização dos serviços.
O primeiro painel vespertino
“Inovação e descriminalização 20 anos depois” teve como moderador o
Diretor-Geral do SICAD, João Goulão, que afirmou que “ o primeiro ganho de
termos este encontro é a alegria de estarmos juntos”.
João Bezerra Silva, conselheiro na
missão de Portugal junto da ONU, em Viena, destacou que o modelo português é,
hoje, um exemplo de boas práticas a nível internacional, acrescentando que a
desconfiança inicial sobre o mesmo durou bastantes anos mas foi ultrapassada
pelos resultados.
Sofia Albuquerque, responsável pela
área da dissuasão do SICAD, afirmou que a descriminalização surgiu como uma das
13 medidas a serem implementadas no âmbito da Estratégia Nacional de Luta
Contra a Droga e que o Modelo de Intervenção em Dissuasão partiu da componente
jurídica, mas procura a forma de lidar com as pessoas com estes problemas.
Joana Alves, vogal da CDT de Braga,
deixou o desafio do alargamento do modelo de intervenção em dissuasão às
infrações rodoviárias sob o efeito do álcool, e deixou uma pergunta: que tipo
de consumidores de álcool são os condutores fiscalizados e identificados?
José Quaresma, Juiz Desembargador,
afirmou que o sucesso do modelo português e da mudança de paradigma está na
perspetiva, não punitiva, mas mais de saúde pública, e que apenas as infrações
leves são passiveis de intervenções concorrentes.
O segundo painel vespertino
“Guidelines para a intervenção na área do jogo”, moderado por Domingos Duran,
Chefe de Divisão de Intervenção Terapêutica da Direção de Serviços de
Planeamento e Intervenção do SICAD, teve como oradores Hélder São João, chefe
de enfermagem e membro da Comissão Executiva Permanente da Direção de
Enfermagem da DICAD, da ARS Norte; Natália Nogueira, enfermeira clínica a
exercer funções no CRI de Castelo Branco; e Paula Santos, psicóloga, a exercer
funções na UD-Centro das Taipas, em Lisboa, que testemunharam a sua experiência
enquanto membros do grupo de trabalho do qual resultou a publicação das “Linhas
Orientadoras para a Intervenção na Perturbação do Jogo”, e na subsequente
divulgação e informação nas regiões a que pertencem.
O terceiro e último dia do ENPCAD,
decorre hoje e abordará o Plano Nacional para a redução dos CAD 2021-2025.
Inclui cinco workshops sobre dependências sem substância, respostas inovadoras,
prevenção ambiental, populações vulneráveis, e inovação no Plano Nacional.