RESUMO
O presente artigo nasceu do desejo de pôr em texto um conjunto de reflexões que foram resultando da prática de intervenção com grupos (de formação e de intervenção) em contexto preventivo ao longo dos últimos 15 anos.
Tendo por base da minha intervenção o jogo e a dinâmica de grupos, tem sido claro para mim o grande impacto que esta abordagem tem em quem nela participa e uma resistência a encará-la como séria e técnica e cientificamente suportada por parte de alguns profissionais no domínio da promoção da saúde e da intervenção comunitária.
O legado de Lewin, Moreno, Vigotski, Winnicott no domínio do jogo e do brincar postos ao serviço da prevenção, cruzam-se com as leituras dos jogos do quotidiano de Azevedo, Neto, LeBreton e Sami-Ali num enredo que nos transporta do brincar como contexto relacional espontâneo à sua utilização como poderoso instrumento de compreensão e mudança.
No final deste percurso em torno da saúde do brincar e do brincar com e para a saúde, concluímos para questões transferenciais, onde a facilidade de adesão ao jogo como instrumento e à dinâmica de grupo como referência, se confronta, no reverso da medalha, com o risco de banalização do recurso e com o perigo de normalização do grupo a partir das expectativas do dinamizador.
Moreno ensinou-nos que a espontaneidade não é a utilização de velhos recursos (nossos ou dos outros) em novos contextos mas a procura de variantes decorrentes dos cenários em que nos movemos e dos restantes protagonistas nas cenas do quotidiano. Também no brincar para a saúde se preconiza a descoberta dessas variantes em ensaios e erros acompanhados por um dinamizador que se permite espantar sempre, com cada nova resposta, em cada nova acção, silêncio ou resposta. A brincar, a brincar… se trabalham coisas muito sérias.
Palavras-chave: Dinâmica social; O jogo e o brincar; Prevenção; Promoção da saúde.
RÉSUMÉ
Cet article est né du désir de mettre en texte un ensemble de réflexions résultant de la pratique d’intervention avec des groupes (formation et intervention) dans un contexte de prévention dans les 15 dernières années. Ayant pour base mon intervention sur le jeu et la dynamique de groupes, était claire pour moi le grand impacte que cet abordage a dans les participants et la résistance de l’envisager comme une technique sérieuse et scientifique appuyée pour quelques professionnelles dans le domaine de la promotion de la santé et dans l’intervention communautaire.
Le légué de Lewin, Moreno, Vigotski, Winnicot dans le domaine du jeu et de l’amusement au service de la prévention, se croise avec les lectures des jeux du quotidien de Azevedo, Neto, LeBreton et Sami-Ali dans une trame qui nous transporte du jouer comme contexte relationnel spontané à son utilisation comme un instrument puissant de compréhension et changement.
Dans la fin de ce parcours autour de la santé du jouer et du jouer avec et pour la santé, on se dirige pour des questions transférentielles, où la facilité de l’adhésion au jeu comme instrument et à la dynamique de groupe comme référence, se confronte, dans le revers de la médaille, avec le risque de la banalisation de ce moyen et avec le danger de la normalisation du groupe à partir des expectatives de l’animateur.
Moreno nous a enseigné que la spontanéité ce n’est pas l’utilisation de vieux recours (les nôtres et ceux des autres) dans nouveaux contextes, mais la recherche de variables originaires des scénarios dans lesquels nous nous mouvons et des autres protagonistes dans les scènes du quotidien. On préconise aussi dans le jouer pour la santé, la découverte de ces variables en essais et fautes accompagnées par un animateur qui se surprend toujours à chaque nouvelle réponse, dans chaque action, silence ou réponse. En jouant, jouant… se travaillent des choses très sérieuses.
Mots-clé: Dynamique sociale; Jouer; Prévention; Promotion de la santé.
ABSTRACT
This article is about a set of thoughts issued from the practice of group intervention (training and intervention) in a preventive context during the last 15 years.
My intervention is based on the game and the group dynamics, and it has been clear to me the big impact of this approach among the participants and the resistance to face it as a serious technique supported scientifically by some professionals in the field of health promotion and community intervention.
Lewin’s, Moreno’s Vigotski’s and Winnicott’s legacy in the field of the game and play at the service of prevention, come across with the daily games of Azevedo, Neto, LeBreton and Sami-Ali in a plot that lead us from the play as a spontaneous relational context to its use as a powerful instrument for the understanding and change.
At the end of this course around the healthy play and the play with the health and for the health, we met transferring issues, where the easy adhesion to the game as an instrument and to the group dynamics as a reference, is confronted with the risk of banality and with the danger of the group normalization based on the animateur’s expectancies.
Moreno taught us that the spontaneity is not the use of old resources (ours and others) in new contexts, but the search of variables issued from the sceneries in which we move ourselves and from the others actors in the daily scenes. It is advised also, in the play for health, the discovery of those variables in essays and errors followed by an animateur, that can be always surprised by each new answer, new action, silence or response. Serious things are worked on, by playing, playing…
Keywords: Social dynamics, Play; Game; Prevention; Health promotion.