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 Revista toxicodependências

 
Revista nº: 1/2003
A QUÍMICA DA DEPENDÊNCIA E AS DEPENDÊNCIAS-TÓXICAS. PARA UM MODELO BIO-PSICO-SOCIAL

Nuno M. Torres

RESUMO
Propõe-se um modelo biopsicossocial das toxicodependências, a partir do conceito de Pressuposto Básico de Dependência de Bion e de pesquisas neurobiológicas sobre o papel do sistema opióide endógeno na modulação tanto das ligações sociais como do efeito de drogas.
É revista a evidência disponível de que: a) o sistema opióide endógeno intervém na modulação dos subsistemas socio-emocionais de dependência (aleitamento, attachment, afiliação social e crença religiosa); b) défices graves nestes subsistemas são factores de risco para as toxicodependências; c) várias substâncias psicoactivas (opiáceos, cocaína, etanol, cannabis, nicotina) exercem efeito no sistema opióide endógeno.
Os comportamentos aditivos são considerados como decorrentes de um impasse biopsicológico, resultante: a) da pressão do sistema opióide endógeno para aumentar a dependência emocional (via ansiedade de separação e sentimento de desamparo), e b) da pressão motivacional para a independência, devido ao contacto social stressante (attachment inseguro, défices na afiliação social). O abuso de substâncias substitui quimicamente os efeitos da dependência emocional.
Palavras-chave: Dependência; Opióides endógenos; Aleitamento; Attachment; Afiliação social; Religião; Ansiedade de separação.


RÉSUMÉ
Proposition d’un modèle biopsychosocial des drogue-dépendances à fondé sur le concept de l’Hypothèse de Base de la Dépendance de Bion, et intégrant les dernières recherches en neurobiologie portant sur le rôle du système opioïde endogène dans la modulation des rapports sociaux et dans l’abus des drogues. Il ressort des données scientifiques disponibles que: a) le système opioïde module les sous-systèmes socioémotionnels de dépendance, b) les déficiences aiguës de ces sous-systèmes sont des facteurs de risque préalables pour les toxicodépendances, c) les drogues (opiaces, cocaïne, alcool, nicotine, cannabis) tiennent des effets dans le système opioide endogène.
Le comportement de dépendance dérive d’une impasse biopsychologique découlant: a) de la pression exercée par le système opioïde endogène en vue d’accroître le contact social (qui se traduit par une angoisse de séparation et un sentiment d’abandon) et b) de la motivation d’indépendance et d’autonomie suscitée par le contact social stressant (attachement qui manque de sécurité, déficience au niveau de l’affiliation sociale). Cette impasse trouve sa solution dans la consommation des substances qui activent le système opioïde et qui suppriment la dépendance émotionnelle.
Mots-clé: Dependence; Opioides endogènes; Allaitement; Attachment; Affiliation sociale; Religion; Angoisse de séparation.


ABSTRACT
Describes a biopsychosocial model of substance abuse, using Bion’s concept of Dependence Basic Assumption and integrating recent neurobiological research on the modulatory functions of the endogenous opioid system in social bonding and in drug addiction.
Evidence is presented to support that: a) the opioid system modulates the socio-emotional subsystems of dependence (suckling, attachment, affiliation, religious belief); b) severe deficits in these subsystems represent wellknown risk factors for substance abuse; c) psychoactive substances (opiates, cocaine, cannabis, alcohol, nicotine) exert effect in the endogenous opioid system.
The addictive behaviours are considered to be derived from a biopsychological impasse between: a) the pressures of the opioid system to increase social contact (through separation anxiety and helplessness) and b) the motivational pressures for independence and autonomy due to stressful social contact (insecure attachment, affiliation deficits). Substance abuse chemically replaces the effects of emotional dependence.
Keywords: Dependence; Endogenous opioids; Suckling; Attachment; Affiliation; Religion; Separation anxiety.


2003_01_TXT2.pdf
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